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5 de abril de 2011

A boa e velha imprensa

A cada dia que passa, eu me surpreendo mais e mais com a “capacidade” de inovação dos jornalistas brasileiros. De tanto ver as matérias se repetirem, de tanto serem previsíveis as pautas, as reportagens e os chavões, me coloco ao lado do STF que decidiu que, para ser jornalista, não é necessário diploma. É claro que não precisa!

Se o candidato a neófito periodista souber minimamente escrever, concatenar idéias e tiver boa percepção para buscar noticias, não precisa ser diplomado.

E mais, se souber requentar matérias repetidas à saciedade em todos os meios de comunicação, por anos e anos a fio, estará bem encaminhado na carreira. Querem um exemplo? Feriados prolongados: repetem-se as matérias com chamadas tipo: “Policia Rodoviária intensifica fiscalização nas BR’s no inicio do feriadão!”; ou então: “Listas de material escolar mais caras este ano: é preciso pesquisar para economizar!”. Outra que era recorrente quando ainda existia a convocação extraordinária do Congresso Nacional. A cada nova convocação a velha matéria: “...para deliberarem sobre essas matérias os parlamentares onerarão em dezenas de milhares de reais os cofres públicos...”. Com a extinção das convocações extraordinárias, muito repórter deve ter perdido emprego...

Alem disso, as TV’s usam um chavão extremamente previsível: logo após colocarem no ar uma tragédia climática qualquer – enchente no sul do país, seca no nordeste, furacão na Ásia – trazem em seguida o boletim de previsão meteorológica.

Outra coisa que incomoda é a mania (talvez ranço dos bancos escolares) de se utilizar todos os verbos no pretérito imperfeito. Tudo bem; não se pode acusar sem ter provas; não se pode levar ao ar uma matéria dizendo, fulano fez ou beltrano furtou. É mais prudente o chavão “teria feito” e “teria furtado”. Mas quando a notícia é evidente e fulano e beltrano efetivamente fizeram e furtaram? Porque não colocar no afirmativo, uma vez que até mesmo a imagem mostra o óbvio ululante?

Mas a pior de todas é aquela frase que fecha muitas das notícias sobre políticos, empresários e afins que são flagrados em mensalões, esquemas de propinagem, etc. Após discorrer sobre o fato de que fulano teria recebido propina e beltrano teria fraudado uma licitação, o repórter, o apresentador ou até mesmo o respeitável âncora enche a boca para dizer: “procurado pela reportagem do Jornal XX, fulano disse que nunca recebeu nada e beltrano negou as acusações”...

A grande revolução da imprensa ocorrerá quando esse fecho de matéria informar: “fulano e beltrano CONFIRMARAM as acusações e mais: disseram que não foi só isso; FOI MUITO MAIS!!!”

Data venia aos meus amigos do ramo mas, assim é muito fácil ser jornalista!

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