Sou uma pessoa muito curiosa com a origem das palavras, seus significados e usos. Diante de um novo termo, fica uma inquietação, até descobrir o que é, de onde vem e como se emprega o termo.
Recentemente me deparei com um novo vocábulo: o ARMENGUE. Talvez muitos não conheçam, assim como o editor de textos do Word também não, mas já me encarreguei de corrigir esse “problema” adicionando armengue ao dicionário do computador...
Pois bem, armengue, pelo que andei pesquisando, não faz parte do vernáculo coloquial brasileiro; aliás, é um termo originário da Bahia, assim como diversos outros termos também por lá “inventados” e usados deliciosamente, estejam eles certos ou errados.
Mas fiquei pensando quais outros significados a palavra armengue poderia ter e um deles, remontaria à época dos faraós. Seria mais ou menos assim:
“Tuthi Akinonkabe”, poderoso faraó da terceira dinastia, convocou seus conselheiros: sábios, astrônomos, matemáticos, visionários e magos foram levados à Sala das Três Colunas, onde repousam as estátuas das divindades Cervix, Sacris e Toraxics.
O Faraó tivera um sonho, estava agitado e gostaria de saber seu significado.
Ninguém soube interpretar, mas disseram que um escravo hematita, capturado na campanha de T’al-Arico, talvez pudesse ajudar: sabiam que ele tinha poderes quase transcendentais:
– O que você entende sobre interpretação de sonhos, ó escravo??? Vociferou o faraó.
– Não muita coisa, meu senhor... mas eu era um armengue no meu reino, antes de ser capturado...
Oooohhhh, fizeram os asseclas do faraó. Desde há muito tempo julgava-se extinta a casta dos armengues, poderosos místicos que se utilizavam da força sináptica e telepática para prever o futuro, interpretar sonhos, elaborar sortilégios e descobrir malfeitores...
E desde então, o Egito passou a ter armengues em sua corte... e suas premonições contribuíram para consolidar a paz no alto Calígrafo.”
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Ou ainda:
“Idade Média, um dia qualquer no começo do mês de novembro do ano de 1.111...
O rei Carlos de Monte Cáspita, da baixa Saxofônica, prepara-se para repelir a invasão dos Glutões, última horda que cruzou o mar de Metatarso, trazendo terror e pânico ao continente, aliando-se a outras frentes que tentavam dominar a região.
Sobre a casamata, o rei dá ordens a seus generais para coordenarem os seus batalhões:
– Cavalariços em retaguarda!!! Atenção ao avanço pelos flancos!!!
– Balesteiros em posição!!!
– Atenção armengues, ao meu comando... – AVANÇAARRR!!!
Nunca se vira um batalhão de armengues tão bem preparado. Com suas vistosas vestimentas, ostentando uma grande letra “A” em vermelho no peito, faziam parte de uma ordem dissidente dos Templários.
A vitória foi esmagadora... E a Saxofônica saiu de vez das mãos dos internautas.”
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Mas deixemos guerras e batalhas épicas de lado. Armengue poderia ser usado em situações mais atuais e corriqueiras, como:
“Sala de cirurgias: bip... bip... bip... bip...
O renomado médico-cirurgião Face-google meticulosamente opera um paciente recém defenestrado, fazendo uma videolaparoconferência para a faculdade de AppleStore:
– Temos aqui uma epigastalgia intracutânea por vasodilatação sistêmica que pode ser consequência de um distúrbio metabólico crônico associado a uma isquemia coronária aguda... Vamos aplicar 10 ml de cloridrato de cetamina para equilibrar os neurotransmissores e colocá-lo na posição de Trendelemburg...
bip... bip... bip... bip...
– Hum... não está retrocedendo... essa adenomegalia,diretamente dependente do débito cardíaco está causando uma resistência arterial periférica...
– Vamos ter que usar o ARMENGUE...
– Mas doutor, usar o armengue seria uma intervenção muito extremada.
– Sim, eu sei... se nem utilizando o armengue conseguirmos, avise a família e reserve a capela...”
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Bom, mas nem tudo ligado ao termo armengue tem que ser necessariamente transcendental, trágico ou bélico... poderia ser também romântico:
“Se conheceram no parquinho do condomínio, em uma tarde ensolarada de outono... ele tinha 13 anos e ela 11... um perfume acre-doce exalava de flores que forravam o chão, caídas de uma pequena árvore que eles não sabiam o nome...
Por capricho do destino foram estudar na mesma escola, quando ela se mudou do interior para capital. Compartilhavam segredos, cartas e letras de música.
Mas quis o destino que ela fosse de volta para a pequena cidade de origem, acompanhando os seus pais.
Os anos se passaram. Ela agora, moça, de volta à cidade grande, deixando os cadernos coloridos e passando a se ocupar mais com perfumes e decotes...
Enfim, faculdade!! Novos desafios, novos amigos, novos amores...
Primeiro dia de aula e aquela menina, antes magricela, sardentinha, de tranças ruivas, agora chamava atenção dos rapazes e principalmente de um em especial, que não parava de olhar. Aliás, olhares quase esquecidos no tempo, mas que quando se viram, intrigantemente se reconheceram... Se olharam e se enamoraram novamente...
Passeios no fim de tarde de mãos dadas pelo condomínio: fizeram juras de amor eterno, de nunca mais se separarem... e se beijaram docemente, debaixo do antigo e frondoso pé de armengue, enquanto o sol se derramava no horizonte...
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Mas nenhum desses termos é o verdadeiro ou correto. Armengue significa, no dicionário informal baianes, algo arranjado, feito de improviso. Assim como esse artigo...
Armengando muito imaginosamente, o autor enceta sua viagem na farofônica Ar-Mênfis, passa de raspão pelos castelos agrovinílicos do Rheingeld, inexplicavelmente dá uma ajuda ao Doutor Aft Tomar-en-Roff, cirurgião subchefe do renomado Hospital Alberstein der Erste, e pousa triunfalmente na praça das Merengadas, onde desfruta dum armengástico descanso. Essa praça sugestivamente fica num arrabalde de Salvador.
ResponderExcluirUma possível origem da palavra armengue seria uma corruptela de "arrangements" que foram necessários para a instalação da refinaria de petróleo de Madre de Deus próximo a Salvador.
ResponderExcluirdesculpe.. nao tinha visto seu comentário... é exatamente isso!
ExcluirOla! o termo armengue vem de arrangement. No inicio da exploração de petróleo na Bahia, os engenheiros estrangeiros falavam em arrangement como um arranjo, uma arrumação, uma disposição de um equipamento, depois passou a significar gambiarra... Os brasileiros acabaram "abrasileirando", aliás "abaianaram", tanto é que está no dicionário de baianês
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